segunda-feira, 10 de maio de 2010

o russo italiano.

era um beijo seco, doce e áspero. tinha gosto de cigarro e vodka.
tinha gosto de ternura.
pouquíssimas já o haviam desfrutado, raras as que o fizeram por mais de uma vez. por mais de diversas vezes, diversos dias e semanas? somente eu.
ainda tentava entender o significado dessa exclusividade. não só pros beijos, mas para os toques, suaves e possessivos ao redor da minha cintura, grosseiros em meus cabelos... pros abraços e principalmente, pros sorrisos. tímidos, gentis. pra mim, altamente encantadores.
por mais que eu tivesse certeza de que tal exclusividade não era coisa do acaso, de que realmente alguma coisa muito bonita surgiria dali, descobri que ele tinha medo. tinha medo de sentir. tinha medo de mim.
e a exclusividade se estendeu ao descaso, à frieza. e o que eu via eram olhares evitados, sentimentos recolhidos e guardados. sentimentos não usados, feito roupa chique no fundo do armário fechado. e foi assim, ele fechou seu coração.
e em mim ficou a expectativa. a expectativa de que aquele andar cheio de atitude com all stars e botas, aquela barba mal-feita, aquele corte de cabelo, aquela voz suave comigo e agressiva com a platéia, aquela mente cheia de poesia, aquele gosto musical genuíno, aquele coração há muito machucado mas cheio de esperança, tudo passaria a me pertencer. não no papel, não no anel. mas no sentimento.
mas me enganei. ou talvez, ele tenha me enganado. me mandou os sinais errados e me fez acreditar, me fez esperar por algo inesperado. algo que não aconteceu. meu coração doeu, meu coração sangrou. e, depois de um tempo, endureceu e trancou as portas. mas, infelizmente, ele roubou a chave e me tirou o controle sobre mim mesma. passei a estranhá-lo. ele passou a desconfiar de mim. e tudo mudou entre nós.
no fim, ainda era um beijo seco, doce e áspero. tinha gosto de cigarro e vodka.
mas não tinha gosto de ternura.

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