segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

O maior dos pesos

E se um dia, ou uma noite, um demônio lhe aparecesse furtivamente em sua mais desolada solidão e dissesse: ''Esta vida, como você a está vivendo e já viveu, você terá de viver mais uma vez e incontáveis vezes, e nada haverá de novo nela, mas cada dor e cada prazer e cada suspiro e pensamento, e tudo o que é inefavelmente grande e pequeno em sua vida, terão de lhe suceder novamente, tudo na mesma sequencia e ordem - e assim também essa aranha e esse luar entre as árvores, e também esse instante e eu mesmo. A perene ampulheta do existir será sempre virada novamente - e você com ela, partícula de poeira!'' - Você não se prostraria e rangeria os dentes e amaldiçoaria o demônio que assim falou? Ou você já experimentou um instante imenso, no qual lhe responderia: ''Você é um deus e jamais ouvi coisa tão divina!'' Se esse pensamento tomasse conta de você, tal como você é, ele o transformaria e o esmagaria talvez; a questão em tudo ou em cada coisa, ''Você quer isso mais uma vez e por incontáveis vezes?'', pesaria sobre os seus atos como o maior dos pesos! Ou o quanto você teria de estar bem bem consigo mesmo e com a vida, para não desejar nada além dessa última, eterna confirmação e chancela?


Trecho retirado do livro ''A Gaia Ciência'' de Friedrich Nietzsche.

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